quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

João de Sousa Carvalho (1745-1798) - Te Deum (1792)

Te Deum é um hino da liturgia católica. A origem do canto parece não ser fácil de traçar, já que são contraditórias as hipóteses que se vão apresentando pela crítica e historiografia religiosas. A hipóteses mais famosa, mais simbólica do que científica (e talvez por isso mais interessante), reporta o Te Deum ao século IV, mais precisamente ao ano 387, na altura da cerimónia do baptismo de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, que terá, com Santo Ambrósio, composto em alternância o hino para a própria cerimónia. Esta hipótese é confirmada, inclusive, pelo nome pelo qual o hino é tradicionalmente tratado "Hino Ambrosino" e pela incrição no Breviário Romano que o identifica: "Hymnus SS. Ambrosii et Augustini" ("Hino dos Santos Ambrósio e Agostinho").

Contudo, estudos filológicos e históricos recentes contraditam a origem simbólica do hino. Textos que surgiram (São Cipriano de Cartago em 252), e onde o hino aparece, remetem a sua origem para o século II, o que, do ponto de vista da métrica parece fazer mais sentido, segundo os especialistas. Assim, parece ser hoje consensual que a autoria do hino não se deve aos dois santos mas a um São Aniceto, Papa cujo pontificado decorreu cerca de 157 a cerca de 168.

A utilização do Te Deum nas liturgias é bastante frequente. Iniciamente era cantado no final das matinas dos dias festivos do calendário religioso. Para além deste uso, passou a ser introduzido, desde muito cedo, em todas as cerimónias liturgicas de Acção de Graças, tornando-se na oração principal. Estas cerimónias, que agradeciam uma qualquer benesse divina, podiam ter um carácter diverso: eclesiástico (canonizações, eleição de um novo Papa, consagração de um Bispo, etc...), políticas (assinaturas de tratados, vitórias militares, ou celebração do aniversário, nascimento, casamento de um membro da Família Real), ou qualquer acontecimento quotidiano marcante para a comunidade.

Em Portugal, o Te Deum conhece tem uma existência vigorosa com D. João V, que manda celebrar em 1718 um Te Deum a 31 de Dezembro de cada ano como agradecimento das graças divinas ao reino. O Te Deum passa, então, a ser um instrumento simbólico de afirmação e legitimação do poder do Estado e da Igreja, ao mesmo tempo que afirma a relação íntima entre estas duas esferas.

Deixo-vos com este pequeno, e sumário, texto de introdução, exclusivamente histórico, sobre o Te Deum. Quanto a João de Sousa Carvalho, os textos biográficos são muito resumidos. Como conclusão deixo-vos o texto do Te Deum.


TE DEUM

Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.

Te æternum Patrem omnis terra veneratur.

Tibi omnes Angeli, tibi Cæli, et universæ Potestates: Tibi Cherubim et Seraphim incessabili voce proclamant: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth.

Pleni sunt cæli et terra majestatis gloriæ tuæ.

Te gloriosus Apostolorum chorus, Te Prophetarum laudabilis numerus, Te Martyrum candidatus laudat exercitus.

Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia, Patrem immensæ majestatis: Venerandum tuum verum et unicum Filium: Sanctum quoque Paraclitum Spiritum. Tu Rex gloriæ, Christe.

Tu Patris sempiternus es Filius, Tu, ad liberandum suscepturus hominem, non horruisti Virginis uterum.

Tu, devicto mortis aculeo, aperuisti credentibus regna cælorum. Tu ad dexteram, Dei sedes, in gloria Patris. Iudex crederis esse venturus.

(Ao versículo seguinte, todos se inclinam) Te ergo quæsumus, tuis famulis subveni, quos pretioso sanguine redemisti.

Æterna fac cum Sanctis tuis in gloria munerari.

Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic hereditati tuæ.

Et rege eos, et extolle illos usque in æternum.

Per singulos dies benedicimus te; Et laudamus Nomen tuum in sæculum, et in sæculum sæculi.

Dignare, Domine, die isto sine peccato nos custodire.

Miserere nostri domine, miserere nostri.

Fiat misericordia tua, Domine, super nos, quemadmodum speravimus in te.

In te, Domine, speravi: non confundar in æternum.

V. Benedicamus Patrem, et Filium, cum Sancto Spiritu.

R. Laudemus, et superexaltemus eum in sæcula.

V. Benedictus es, Domine, in firmamento cæli.

R. Et laudabilis, et gloriosus, et superexaltatus in sæcula.

V. Domine, exaudis orationem meam.

R. Et clamor meus ad te veniat.

V. Dominus vobiscum.

R. Et cum spiritu tuo.

Oremus.

Deus, cujus misericordiæ non est numerus, et bonitatis infinitus est thesaurus: + piissimæ maiestati tuæ pro collatis donis gratias agimus, tuam semper clementiam exorantes; * ut, qui petentibus postulata concedis, eosdem non deserens, ad præmia futura disponas. Per Christum Dominum nostrum.

R. Amen.

[Fonte: wikipédia]


Te Deum

1. Te Deum Laudamus

2. Tibi Omnes Angeli

3. Sanctus

4. Te Gloriosus

5. Patrem Immensae Majestatis

6. Sanctum Quoque

7. Tu Patris

8. Tu Devicto

9. Judex Crederis

10. Te Ergo Quaesumus

11. Salvum Fac

12. Per Singulos Dies

13. Dignare Domine

14. Fiat Misericordia


Brigitte Fournier - Soprano I

Naoko Okada - Soprano II

Elisabeth Graf - Contralto

John Elwes - Tenor

Michel Brodard - Baixo


Coro & Orquestra Gulbenkian

Michel Corboz - Direcção
1991, Lisboa