Não foi distinta de muitos outros músicos e compositores portugueses a carreira académica de João Domingos Bomtempo (Lisboa, 1771 - idem, 1842). Refiro-me concretamente à tendência migratória dos estudantes portugueses da época. Muitos emigraram para continuar os seus estudos junto da escola italiana, Nápoles e Roma sobretudo, a expensas do real bolsinho de D. João V. Domingos Bomtempo, rompe, contudo, num gesto de verdadeira originalidade para época segundo alguns (Ruy Vieira Nery). Prefere Paris e, mais tarde, Londres, numa mudança radical, de ruptura com a tradição portuguesa de "tendência" italiana. Além disso, Bomtempo não parece, segundo a historiografia oficial, ter emigrado apenas para concluir a formação inicial que recebeu em Portugal, mas para absorver verdadeiramente o que se fazia no estrangeiro. AO contrário, a maior parte dos compositores portugueses já iria "formatado" pelo ensino nacional de indole napolitana.
João Domingos Bomtempo foi um pianista virtuoso, conseguindo ombrear com os melhores interpretes parisienses e londrinos. Fez parte do grupo de 25 que em 1813 fundam a Philharmonic Society de Londres, grupo que congregava a elite da cultura musical da capital inglesa.
A vida, e inevitavelmente a obra, de Bomtempo não estão isentas de preocupações políticas. Neste particular, a vida de Bomtempo desenvolve um pouco ao sabor dos acontecimentos poíticos da época em Portugal. Em primeiro lugar, as invasões francesas, cujas derrotas do exército francês criam um mal-estar junto da comunidade lusa em Paris e obriga Bomtempo a partir para Londres; depois, a fuga da corte portuguesa para o Brasil e, por fim, a "regência" do general Beresford, após a derrota das tropas francesas. A todas estas ocorrências não foi indiferente o compositor portugues que partipou activamente no debate ideológico da época, entrando na Maçonaria e professando ideais liberais.
O Requiem que aqui trouxemos possui marcas desse engagement. A obra chama-se, na verdade, Requiem à memória de Luís de Camões, na medida em que se pretendia encontrar um paralelo entre o discurso tradicional da missa de finados como uma invocação dos pecados humanos, do seu julgamento, do castigo dos pecadores e da sua redenção, e o discurso simbólico da decadência de um povo pelos pecados cometidos contra a pátria. Camões serviria, neste contexto, como uma figura simbólica regeneradora da pátria lusa. Um pouco à imagem, mais tardia, do D. Sebastião de Pessoa.
A obra terá sido escrita em 1818 e estreada no ano seguinte em Paris, em privado, com o propósito de angariar fundos para a sua própria publicação, desejo coroado de sucesso pois a obra é publicada em 1819 ou 1829 em Paris com o título Messe de Requiem à quatre voix, choeurs, et grande orchestre [...] consacré à la memoire de Camões.
Em Lisboa, a obra é cantada pela primeira vez a 18 de Outubro de 1819, na Igreja de S.Domingos, em memória de Gomes Freira de Andrade e dos supliciados liberais de 1817. A marca de originalidade que foi um traço na carreira de Bomtempo, estende-se ainda ao Requiem, pois era raro na época escreverem-se missas de finados, sendo a excepção Cherubini, que estreia um Requiem em 1817. Por fim, para mais informações sobre João Domingos Bomtempo clique aqui.
A versão que aqui trazemos é uma versão do Coro e Orquestra da Gulbenkian, dirigida por Michel Corboz.
Boa audição!
João Domingos Bomtempo foi um pianista virtuoso, conseguindo ombrear com os melhores interpretes parisienses e londrinos. Fez parte do grupo de 25 que em 1813 fundam a Philharmonic Society de Londres, grupo que congregava a elite da cultura musical da capital inglesa.
A vida, e inevitavelmente a obra, de Bomtempo não estão isentas de preocupações políticas. Neste particular, a vida de Bomtempo desenvolve um pouco ao sabor dos acontecimentos poíticos da época em Portugal. Em primeiro lugar, as invasões francesas, cujas derrotas do exército francês criam um mal-estar junto da comunidade lusa em Paris e obriga Bomtempo a partir para Londres; depois, a fuga da corte portuguesa para o Brasil e, por fim, a "regência" do general Beresford, após a derrota das tropas francesas. A todas estas ocorrências não foi indiferente o compositor portugues que partipou activamente no debate ideológico da época, entrando na Maçonaria e professando ideais liberais.
O Requiem que aqui trouxemos possui marcas desse engagement. A obra chama-se, na verdade, Requiem à memória de Luís de Camões, na medida em que se pretendia encontrar um paralelo entre o discurso tradicional da missa de finados como uma invocação dos pecados humanos, do seu julgamento, do castigo dos pecadores e da sua redenção, e o discurso simbólico da decadência de um povo pelos pecados cometidos contra a pátria. Camões serviria, neste contexto, como uma figura simbólica regeneradora da pátria lusa. Um pouco à imagem, mais tardia, do D. Sebastião de Pessoa.
A obra terá sido escrita em 1818 e estreada no ano seguinte em Paris, em privado, com o propósito de angariar fundos para a sua própria publicação, desejo coroado de sucesso pois a obra é publicada em 1819 ou 1829 em Paris com o título Messe de Requiem à quatre voix, choeurs, et grande orchestre [...] consacré à la memoire de Camões.
Em Lisboa, a obra é cantada pela primeira vez a 18 de Outubro de 1819, na Igreja de S.Domingos, em memória de Gomes Freira de Andrade e dos supliciados liberais de 1817. A marca de originalidade que foi um traço na carreira de Bomtempo, estende-se ainda ao Requiem, pois era raro na época escreverem-se missas de finados, sendo a excepção Cherubini, que estreia um Requiem em 1817. Por fim, para mais informações sobre João Domingos Bomtempo clique aqui.
A versão que aqui trazemos é uma versão do Coro e Orquestra da Gulbenkian, dirigida por Michel Corboz.
Boa audição!
Requiem à Memória de Luís de Camões, op.23
1. Intróito (Requiem aeternam)
2. Kyrie
3. Sequência (Dies irae)
4. Ofertório (Domine Jesu Christe)
Sanctus
5. Sanctus
6. Benedictus
7. Agnus dei & communio (Requiem aeternam)
Requiem Op. 23
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